"Daniel Martins de Barros, psiquiatra do Instituto de
Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, confirma. ”As duas frases que eu mais ouço na clínica
são ‘eu não queria tomar remédio’, na primeira consulta, e ‘eu não queria parar
de tomar os remédios’, na consulta seguinte. A gente tem muita resistência
porque existem muitos mitos: ficar viciado, bobo, impotente, engordar”.
Barros explica que todo remédio pode ter efeitos colaterais
e eles serão receitados quando existir uma relação de custo-benefício a favor
do paciente. “Tudo é assim na medicina e na vida”, diz.
Neury Botega, psiquiatra da Faculdade de Ciências Médicas da
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), afirma que há 30 anos os médicos
dispunham de recursos inadequados para tratar a ansiedade.
“Ou usávamos drogas bem pesadas, como barbitúricos, ou as
que existem até hoje, como as faixas pretas, os benzodiazepínicos. Por isso,
nós vimos várias tias, avós, viciadas em remédios e essa é uma das
imagem". A partir de 1990, a fluoxetina, mais conhecida comercialmente
como Prozac, torna-se popular.
Para Botega, isso
muda totalmente o paradigma do tratamento da ansiedade. “Hoje, para tratá-la,
na maioria das vezes usamos medicamentos que aumentam a atividade de um
neurotransmissor chamado serotonina. É o nosso Bombril: mil e uma
utilidades”."
"Em relação ao tempo de duração do tratamento, não há
protocolos claros para a ansiedade, como existem para a depressão. “Ele pode
durar um tempo ou ser necessário pela vida inteira.
Ansiedade é como pressão alta: quando
descontrola, às vezes é para sempre. Você pode controlar com atividade física,
meditação, terapia, mas ela vai estar sempre ali te ameaçando”, diz Martins de
Barros.
De acordo com ele, os casos variam bastante: há desde
indivíduos que terão alta e nunca mais precisarão de remédios até outros que
dependerão de medicamentos para o resto da vida.
Leandro Karnal, historiador e colunista do jornal O Estado
de S. Paulo, aponta outro lado da questão e vê uma “medicalização” do
comportamento humano. “Se o aluno não
consegue acompanhar as aulas, dão remédio para ele. Nem todo mundo que não
presta atenção tem déficit de atenção. A aula pode ser chata mesmo”, argumenta.
Rosely Sayão,
psicóloga e consultora em educação, chama a atenção para o que ela intitula de
“epidemia de diagnósticos”, que envolve leigos e profissionais de saúde.
Para ela, cada um de
nós hoje usa a lógica médica para olhar para o outro e dizer: “Essa pessoa é
chata; essa pessoa tem TOC; fulano surtou”. “Nós vivemos à base de diagnósticos
e, quando fazemos isso, apagamos a pessoa que está por trás dele”.
Fonte: Sindifar
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